GATEIROS E
CACHORREIROS. EITA RAÇA!
Normalmente
não comento sobre as manifestações dos leitores. As razões
são várias. Vão
desde a impossibilidade de responder pessoalmente a todas
as mensagens – que
são muitas – até a precaução no sentido de manter um
espaço absolutamente
democrático para que cada um se manifeste
livremente, sem correr o risco de ter
sua opinião censurada ou questionada.
Porém, dessa
vez decidi tecer mais alguns comentários a respeito da nota
sobre a Consulta
Pública da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do
Rio de Janeiro, que irá
publicar uma Lista Oficial de Espécies Invasoras.
O que me
motiva a escrever agora foi a enorme repercussão que a nota
alcançou. Foram
quase 6 mil recomendações no Facebook, mais de 150
comentários de leitores e
quase 200 réplicas no Twitter.
Poucas vezes
vi na internet um número tão grande de pessoas se
manifestando a respeito de
uma notícia. No caso da nota sobre as espécies
invasoras, tamanho alcance
deve-se principalmente ao enorme poder de
mobilização que os protetores de
animais domésticos possuem.
Eles são conhecidos popularmente como gateiros e
cachorreiros.
São pessoas que dedicam grande parte do seu tempo a causa da proteção
dos animais domésticos.
Protetores
de animais: amor de bicho não tem preço.
Essas
pessoas são capazes de sacrifícios imensos para defender aquilo
que elas
acreditam. Não existe no mundo – e digo sem medo de errar –
nenhum outro
movimento em que seus membros se envolvam tanto com
a causa que abraçam. Nenhum
grupo político ou religioso possui
integrantes dispostos a tanto sacrifício
pessoal como é o caso dos gateiros
e cachorreiros. Nenhum grupo social tem uma
capacidade de mobilização
tão forte quanto eles. É impressionante.
A sorte de
quem maltrata animais é que esse imenso grupo de protetores
ainda desconhece o
poder que tem. Pois no dia que eles se organizarem
e passarem a ter estratégias
claras de atuação, o mundo político irá tremer.
Os
protetores de animais podem arruinar uma carreira política. Podem
condenar um
produto ao fracasso e, até, causar enormes prejuízos à
empresas que insistem em
ignorá-los. Uma grande parte desse grupo de
ativistas é formada por donas de
casa. São mulheres que decidem o que
comprar em seu lar e que, com o poder de
mães, esposas e filhas,
conseguem mudar a opinião – e o voto – da família.
Para a
felicidade daqueles que ignoram os apelos desse grupo, o movimento
ainda não é
organizado. Não existem lideranças nacionais com capacidade
de mobilizar e de
conduzir uma ação uniforme em território nacional. No dia
que isso acontecer,
senadores da República e até candidatos a presidente
do país terão que estender
tapetes vermelhos para eles.
O mais
impressionante nesse grupo, além do grande poder de mobilização,
é outra
característica muito singular: grana. Ou melhor, a falta dela.
Em 25 anos de
lida diária na causa ambiental, nunca vi um “movimento social”
trabalhar sem
ganhar. Pelo contrário. Penso que os protetores de animais é
o único grupo que
tira do próprio bolso o financiamento para as suas causas.
Eles não são empregados em ONGs, não recebem bons salários, como a
grande parte dos ambientalistas profissionais, não dispõe de financiamento
público e muito menos
recebem emendas de parlamentares. O dinheiro deles
vem das “vaquinhas”, das
“rifas” e dos trocados que conseguem juntar
impondo-se algum sacrifício pessoal.
Não existem
estatísticas que mostram quantos eles são. E muito menos
existem dados oficiais
sobre quem eles são.
Mas uma boa
dica para identificar um potencial protetor é reparar em
alguns dos seus
hábitos mais comuns: possuem animais domésticos,
provavelmente mais de um.
Nas
redes sociais, seus álbuns de fotos sempre possuem a foto de um
gatinho, de um
cachorrinho, ao lado das imagens de suas famílias. Nas ruas,
seu animal de
estimação está quase sempre no colo, ou, se for grande,
sempre ostentará um
pelo brilhoso ou uma coleira da moda. Para esse
grupo, não existe diferença
social entre os animais.
Os de “raça” e os “vira-latas” são iguais, nem mais,
nem menos.
A eles, os
protetores e protetoras do Brasil, dedico minha inteira admiração
e agradeço
imensamente as lições de amor e respeito à vida, que muitas
vezes nos faltam quando somos absorvidos pelos debates “técnicos”
em nossa luta ambiental.
Obrigado.
Fonte
http://blogs.estadao.com.br/dener-giovanini/gateiros-e-cachorreiros-eita-raca/
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